segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A CRIANÇA E A MATEMÁTICA (RCNEI - Vol.3)

As noções matemáticas (contagem, relações quantitativas e espaciais etc.) são


construídas pelas crianças a partir das experiências proporcionadas pelas interações com o

meio, pelo intercâmbio com outras pessoas que possuem interesses, conhecimentos e

necessidades que podem ser compartilhados. As crianças têm e podem ter várias

experiências com o universo matemático e outros que lhes permitem fazer descobertas,

tecer relações, organizar o pensamento, o raciocínio lógico, situar-se e localizar-se

espacialmente. Configura-se desse modo um quadro inicial de referências lógicomatemáticas

que requerem outras, que podem ser ampliadas. São manifestações de

competências, de aprendizagem advindas de processos informais, da relação individual e

cooperativa da criança em diversos ambientes e situações de diferentes naturezas, sobre as

quais não se tem planejamento e controle. Entretanto, a continuidade da aprendizagem

matemática não dispensa a intencionalidade e o planejamento. Reconhecer a potencialidade

e a adequação de uma dada situação para a aprendizagem, tecer comentários, formular

perguntas, suscitar desafios, incentivar a verbalização pela criança etc., são atitudes

indispensáveis do adulto. Representam vias a partir das quais as crianças elaboram o

conhecimento em geral e o conhecimento matemático em particular.

Deve-se considerar o rápido e intenso processo de mudança vivido pelas crianças

nessa faixa etária. Elas apresentam possibilidades de estabelecer vários tipos de relação

(comparação, expressão de quantidade), representações mentais, gestuais e indagações,

deslocamentos no espaço.

Diversas ações intervêm na construção dos conhecimentos matemáticos, como recitar

a seu modo a seqüência numérica, fazer comparações entre quantidades e entre notações

numéricas e localizar-se espacialmente. Essas ações ocorrem fundamentalmente no convívio

social e no contato das crianças com histórias, contos, músicas, jogos, brincadeiras etc.

As respostas de crianças pequenas a perguntas de adultos que contenham a palavra

“quantos?” podem ser aleatoriamente “três”, “cinco”, para se referir a uma suposta

quantidade. O mesmo ocorre às perguntas que contenham “quando?”. Nesse caso, respostas

como “terça-feira” para indicar um dia qualquer ou “amanhã” no lugar de “ontem” são

freqüentes. Da mesma forma, uma criança pequena pode perguntar “quanto eu custo?” ao

subir na balança, no lugar de “quanto eu peso?”. Esses são exemplos de respostas e perguntas

não muito precisas, mas que já revelam algum discernimento sobre o sentido de tempo e

quantidade. São indicadores da permanente busca das crianças em construir significados,

em aprender e compreender o mundo.

À medida que crescem, as crianças conquistam maior autonomia e conseguem levar

adiante, por um tempo maior, ações que tenham uma finalidade, entre elas atividades e

jogos. As crianças conseguem formular questões mais elaboradas, aprendem a trabalhar

diante de um problema, desenvolvem estratégias, criam ou mudam regra de jogos, revisam

o que fizeram e discutem entre pares as diferentes propostas.
 
Jogos e brincadeiras


Às noções matemáticas abordadas na educação infantil correspondem uma variedade

de brincadeiras e jogos, principalmente aqueles classificados como de construção e de

regras.

Vários tipos de brincadeiras e jogos que possam interessar à criança pequena

constituem-se rico contexto em que idéias matemáticas podem ser evidenciadas pelo adulto

por meio de perguntas, observações e formulação de propostas. São exemplos disso cantigas,

brincadeiras como a dança das cadeiras, quebra-cabeças, labirintos, dominós, dados de

diferentes tipos, jogos de encaixe, jogos de cartas etc.

Os jogos numéricos permitem às crianças utilizarem números e suas representações,

ampliarem a contagem, estabelecerem correspondências, operarem. Cartões, dados,

dominós, baralhos permitem às crianças se familiarizarem com pequenos números, com a

contagem, comparação e adição. Os jogos com pistas ou tabuleiros numerados, em que se

faz deslocamento de um objeto, permitem fazer correspondências, contar de um em um,

de dois em dois etc. Jogos de cartas permitem a distribuição, comparação de quantidades,

a reunião de coleções e a familiaridade com resultados aditivos. Os jogos espaciais permitem

às crianças observarem as figuras e suas formas, identificar propriedades geométricas dos

objetos, fazer representações, modelando, compondo, decompondo ou desenhando. Um

exemplo desse tipo de jogo é a modelagem de dois objetos em massa de modelar ou argila,

em que as crianças descrevem seu processo de elaboração.

Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras permitem que o grupo se estruture,

que as crianças estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua vez, acostumemse

a lidar com regras, conscientizando-se que podem ganhar ou perder.

Organização do tempo

As situações de aprendizagem no cotidiano das creches e pré-escolas podem ser

organizadas de três maneiras: as atividades permanentes, os projetos e as seqüências de

atividades.

Atividades permanentes são situações propostas de forma sistemática e com

regularidade, mas não são necessariamente diárias. A utilização do calendário assim como

a distribuição de material, o controle de quantidades de peças de jogos ou de brinquedos

etc., no cotidiano da instituição pode atrair o interesse das crianças e se caracterizar como

atividade permanente. Para isso, além de serem propostas de forma sistemática e com

regularidade, o professor deverá ter o cuidado de contextualizar tais práticas para as crianças
 
transformando-as em atividades significativas e organizando-as de maneira que representem


um crescente desafio para elas. Pelo fato de essas situações estarem dentro de uma

instituição educacional, requerem planejamento e intenção educativa.

É preciso lembrar que os jogos de construção e de regras são atividades permanentes

que propiciam o trabalho com a Matemática.

As seqüências de atividades se constituem em uma série de ações planejadas e

orientadas com o objetivo de promover uma aprendizagem

específica e definida. São seqüenciadas para oferecer

desafios com graus diferentes de complexidade.

Pode-se, por exemplo, organizar com as crianças,

uma seqüência de atividades envolvendo a ação

de colecionar pequenos objetos, como

pedrinhas, tampinhas de garrafa,

conchas, folhas, figurinhas etc.

Semanalmente, as crianças trazem

novas peças e agregam ao que já possuíam,

anotam, acompanham e controlam o crescimento de suas

coleções em registros. O professor propõe o confronto dos

registros para que o grupo conheça diferentes estratégias,

experimente novas formas e possa avançar em seus

procedimentos de registro. Essas atividades, que se desenvolverão ao longo de vários dias,

semanas ou meses, permitem às crianças executar operações de adição, de subtração, assim

como produzir e interpretar notações numéricas em situações nas quais isso se torna

funcional. Por outro lado, é possível comparar, em diferentes momentos da constituição da

coleção, as quantidades de objetos colecionados por diferentes crianças, assim como ordenar

quantidades e notações do menor ao maior ou do maior ao menor. Estes problemas tornamse

mais complexos conforme aumentam as coleções. O aumento das quantidades com a

qual se opera funciona como uma “variável didática”, na medida em que exige a elaboração

de novas estratégias, ou seja, uma coisa é agregar 4 elementos a uma coleção de 5, e outra

bem diferente é agregar 18 a uma coleção de 25. As estratégias, no último caso, podem ser

diversas e supõem diferentes decomposições e recomposições dos números em questão. É

comum, por exemplo, as crianças utilizarem “risquinhos” ou outras marcas para anotar a

quantidade de peças que possuem, sem necessariamente corresponder uma marca para

cada objeto.

Ao confrontar os diferentes tipos de registro, surgem questões, como ter de contar

tudo de novo. Dessa forma, analisando e discutindo seus procedimentos, as crianças podem

experimentar diferentes tipos de registro até achar o que consideram mais adequados.

Conforme a quantidade de peças aumenta, surgem novos problemas: “como desenhar

todas aquelas peças?”, “como saber qual número corresponde àquela quantidade?”. Usar o

conhecimento que possuem para buscar a solução de seu problema é tarefa fundamental
 
Uma das formas de procurar resolver essa questão é utilizar a correspondência termo a


termo e a contagem associada a algum referencial numérico, como fita métrica, balança

etc. Essa busca de soluções para problemas reais que surgem ao longo do registro e da

contagem, levando as crianças a estabelecerem novas relações, refletir sobre seus

procedimentos, argumentar sobre aquelas que consideram a melhor forma de organização

de suas coleções, possibilita um avanço real nas suas estratégias.

Projetos são atividades articuladas em torno da obtenção de um produto final, visível

e compartilhado com as crianças, em torno do qual são organizadas as atividades. A

organização do trabalho em projetos possibilita divisão de tarefas e responsabilidades e

oferece contextos nos quais a aprendizagem ganha sentido. Organizar uma festa junina ou

construir uma maquete são exemplos de projetos. Cada projeto envolve uma série de

atividades que também se organiza numa seqüência.
 
Observação, registro e avaliação formativa


Considera-se que a aprendizagem de noções matemáticas na educação infantil esteja

centrada na relação de diálogo entre adulto e crianças e nas diferentes formas utilizadas

por estas últimas para responder perguntas, resolver situações-problema, registrar e

comunicar qualquer idéia matemática. A avaliação representa, neste caso, um esforço do

professor em observar e compreender o que as crianças fazem, os significados atribuídos

por elas aos elementos trabalhados nas situações vivenciadas. Esse é um processo relacionado

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